O descanso da "guerreira"

Mais e mais mulheres vêem-se identificadas e procuram identificar-se com o arquétipo da "guerreira". A mulher que vai, faz, tem sucesso, alcança os seus objetivos, na sua independência. 

A beleza de estudar o feminino (e a Vida) é perceber como o equilíbrio está no respeito à nossa versatilidade.

O guerreiro está presente em todos os seres humanos. Homens ou Mulheres. E confere-nos características que são imensamente necessárias. Mas a sociedade exige-nos mais e mais desta força, em excesso, masculinizada.

"Ser empoderada" (associando ao arquétipo da guerreira) é tão importante quanto ser vulnerável e sensível. 

Mas a sociedade enquanto sistema patriarcal hierárquico, a par dos medos e dores de histórias pessoais, dita-nos que a proteção de uma vestimenta de guerreira é a mais segura e a que tem mais valor. E com isto, perdem-se as vozes de todas as nossas outras facetas.

É tão importante ir à luta como é descansar. É tão importante teimar e florescer como é desistir e deixar morrer. É tão importante tomar as rédeas da nossa vida, como é sermos suportados enquanto mergulhamos nas profundezas da dor e transformação.

Uma guerreira em desequilíbrio caminha para a solidão. Uma guerreira em desequilíbrio caminha para o cansaço, porque não há partilha, não há pedido de ajuda, não há capacidade de receber.

É muito importante avaliarmos os termos pelos quais procuramos nos definir, porque com eles vêm características e identificações. Nada em excesso é equilibrado. E a mulher guerreira que tanto está na moda e tantas almejam identificar-se, é também ela uma imagem criada por um sistema do qual se tentam afastar.

Não é sobre mudarmos as nossas características para nos moldarmos a uma norma, mas reconhecermos e validarmos as nossas diferentes partes para que a versatilidade seja integrada e todos sejam incluídos.

 

Este texto nasce pela frequência com que tem surgido, em sessões de Kinesiologia, uma "falta de apoio" causadora de diferentes desequilíbrios: dores, ansiedades, dificuldades relacionais, etc. 

Mulheres fortes, bem identificadas com o arquétipo guerreira, que com as suas diferenças juntam-se num ponto em comum: a guerreira que quer descanso e que quer pedir colo, sem saber muito bem como. 

Às vezes a guerreira só quer parar de lutar. Ás vezes a guerreira só quer descansar. E só temos de nos lembrar que isso é possível e permitido. E, talvez, seja esse o maior ato de rebelião que podemos ter. Existem outras vozes que precisam de ter o seu lugar. Em nós e no mundo.